quinta-feira, 30 de julho de 2015

Crónica do Soares #2 - Perspectivas sul-africanas

Dezanove horas e quinze minutos. Vinte e quatro de Julho de dois mil e quinze. Cidade do Cabo. África do Sul. O Sporting Clube de Portugal mostra, pela primeira vez, a sua nova cara. A sua versão 2015/2016. Foi a primeira vez que nós, adeptos, tivemos a oportunidade de ver a equipa em acção durante 90 minutos. Infelizmente, não pude ver o jogo em directo, mas consegui vê-lo íntegra, posteriormente, o que até me permitiu fazer uma análise mais racional àquilo que se passou em campo.



Começando logo pelo onze inicial, tivemos de imediato a primeira novidade: a colocação de André Martins como segundo ponta-de-lança, servindo de apoio mais próximo ao nosso único avançado de raiz, titular, Islam Slimani. Todos sabemos que Jorge Jesus adopta sempre este esquema, mas talvez poucos esperariam André Martins no duo da frente. Surpresa, mas uma agradável surpresa, como se pôde testemunhar após alguns minutos de jogo. A inteligência posicional de André Martins é algo raro neste plantel. A forma como ocupa as zonas de pressão que pisa em momentos defensivos e a percepção de tudo o que se passa em seu redor, aquando do movimento atacante, é de facto notável para um jogador que muita gente considera dispensável no Sporting. Por aqui, se pode ver aquilo que já sabíamos do novo treinador. Um treinador que olha para o jogador e as suas virtudes e o coloca em campo, conforme o papel que Jorge Jesus precisa que ele desempenhe. Passando ao jogo propriamente dito, notou-se, neste primeiro jogo, algumas debilidades defensivas e isto não é nada que não se estivesse à espera. Jorge Jesus é um treinador extremamente exigente com a sua linha defensiva e os constantes avanços e recuos da linha, consoante a pressão feita ao portador, exige um pensamento muito rápido e coordenado dos quatro homens mais recuados e, nestes primeiros tempos, vão ser observáveis algumas falhas. Contudo, no segundo jogo, houve melhorias significativas neste aspecto e os jogadores, aos poucos, começam a assimilar e a acompanhar as ideias do treinador. No meio-campo, ainda se nota algumas dificuldades na transição para o ataque, devido à presença de apenas dois homens no miolo, ao contrário dos três que estávamos habituados a ter. Para além disso, é necessário que um dos médios, o mais defensivo (deverá ser Adrien, na ausência de William) recue para se juntar aos dois defesas centrais, tanto no meio deles, como poderá ocupar o espaço entre um deles e o lateral, permitindo que este último avance no terreno. Outro pormenor ainda na transição é a colocação dos extremos. Que não são extremos nesta fase do processo ofensivo. São autênticos médios interiores que servem de apoio ao homem ofensivo dos dois do meio-campo (João Mário), fazendo um preenchimento no miolo de três jogadores, lá está. A rapidez de processos nesta fase ainda é algo que se pretende melhorar, e muito. Quando chegamos perto da área adversária, a equipa consegue fazer tudo com alguma clarividência, criando oportunidades para os homens que se encontram na área.



No segundo jogo, foi um pouco o oposto. Fomos mais trapalhões, por assim dizer, na fase ofensiva e mais organizados e coordenados defensivamente. Quanto ao aspecto ofensivo, na minha perspectiva, deveu-se a falta de ritmo de Teo Gutierrez. É um jogador com técnica e muita qualidade, mas com a sua capacidade de decisão e sobretudo na rapidez de execução ainda algo afastadas daquilo que conseguirá fazer durante a época. Naturalmente, com a entrada de Montero, as coisas mudaram para melhor. Primeiro, porque se trata de um jogador com três semanas de treino e, depois, porque conhece muito bem Slimani e o argelino a ele. Desta forma, tudo se tornou mais simples e os golos acabaram por aparecer e por parte do colombiano, no dia do seu aniversário. Sem grandes surpresas, esta deverá ser a dupla eleita para enfrentar os primeiros desafios da época. No aspecto defensivo, a colocação de Naldo encaixou que nem uma luva. Confesso estar positivamente surpreendido por este jogador, pelo qual não tinha grandes expectativas, talvez por não ter uma carreira particularmente vistosa. Apesar disso, mostrou que é a melhor companhia para Paulo Oliveira, dado que são jogadores semelhantes e, como foi perceptível, que se entendem bastante bem. Naldo é, assim, um jogador rápido (ideal para esta defesa exigente), forte no desarme e minimamente confortável com a bola para sair a jogar. Relativamente à colocação de Ruben Semedo como trinco... Sinceramente, não me agrada. É um jogador que, defensivamente, parece ter aquilo que se pretende para aquele lugar do relvado, mas ofensivamente deixa muito, mesmo muito a desejar. É um jogador bastante limitado tecnicamente que não tem, nem de perto nem de longe, a qualidade de passe e visão de jogo necessária para ser o primeiro jogador referência na construção de jogo. Por isto mesmo, Rosell, por mim, estaria sempre à frente de Semedo na luta por este lugar, logo atrás de Adrien, que, já se percebeu, irá ser a primeira opção de Jorge Jesus, na ausência de William Carvalho. Para concluir, só falta mesmo os extremos. Com estes dois jogos, confirmou-se aquilo que já se sabia. Jorge Jesus é um admirador de Gelson Martins. O repentismo, a velocidade de execução e a capacidade de desequilibrar, quer a partir da faixa para o meio ou ao longo da faixa, são características que agradam. No entanto, no segundo jogo, ficou a sensação que normalmente temos relativamente a este tipo de jogadores. Ficou a sensação que é mais um jogador que, de repente, desaparece do jogo. Diria eu que sofre um pouco do síndrome que Carrillo sofria até há um ano atrás. Esperemos então que, com o tempo, Gelson tire proveito de toda a sua qualidade e potencial e perca o medo de arriscar e procure os espaços para receber e fazer ponto de apoio ou então receber para poder atacar, com velocidade, o espaço à sua frente. Ainda nos extremos, continuo sem perceber o que se pretende de Diego Capel. Num momento, é dispensável, noutro a seguir já é opção. A meu ver, a primeira situação é a mais recorrente e a que se adequa mais ao espanhol. É um jogador que já deu tudo o que tinha a dar ao clube e que não vai evoluir mais em Alvalade. Perante o talento que temos nestas posições, com Carrillo, Gelson, Mané, Ruiz e até Iuri, Capel perdeu o pouco espaço que ainda tinha neste plantel. A saída é inevitável, já este Verão. Uma última palavra para Rui Patrício, que tinha acabado a época na selecção e mal visto pelos golos consentidos na Arménia. Nestes dois jogos, voltou a mostrar que, em forma, é, de longe, o melhor guarda-redes português e o dono da baliza do Sporting e da selecção nacional nos próximos anos. A defesa ao minuto 77 do jogo contra o Crystal Palace é para ver... e rever.. e rever. Monstruoso.



Em suma, o onze base está praticamente definido. Rui Patrício será o guarda-redes, tendo à sua frente uma linha de quatro com João Pereira, Paulo Oliveira, Naldo e Jefferson. No meio, Adrien fará de William, contando com João Mário um pouco mais à frente. Nas alas, Carrillo, apesar de ainda estar em má forma, deverá ser o escolhido para estar do lado oposto a Carlos Mané. Gelson ainda estará um pouco ‘verde’ para entrar na equipa titular nestes primeiros jogos. Na frente, Slimani e Montero são a dupla que deixa mais garantias. Mostraram-no nesta pré-época, marcando quatro golos cada um nos cinco jogos já realizados e entendendo-se sempre bem nas combinações do último terço do terreno. 

Para finalizar a crónica desta semana, um assunto fora das quatro linhas, mas importante para o futebol português. Depois de ser aprovado pelos clubes profissionais, o sorteio dos árbitros foi chumbado na Federação Portuguesa de Futebol. Os protagonistas são os clubes, mas quem decide as regras pouco ou nada tem a ver com os clubes e estes acabam por sair prejudicados por não verem os seus pontos de vista e as mudanças desejadas aprovadas na FPF. Mais um ponto triste acrescentado ao conto, que é o nosso futebol. É o nosso fado.

Saudações Leoninas,

Autor do Artigo: Rui Soares

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